Parem as rotativas que uma senhora de provecta idade decidiu dizer algo politicamente incorrecto! E a propósito, eu também não vou ser muito mais politicamente correcta. (Aliás o politicamente correcto é algo que não me apraz.)
Não tenho por hábito dar muita atenção ao que actores, actrizes, cantores, apresentadores dizem em entrevista, mas desta vez apeteceu-me. Aparentemente a senhora Betty, a Faria, actriz brasileira, e não a Grafstein, que acompanha aquela figura única do jet-set nacional, decidiu opinar o seguinte: “Não gosto de mulheres gordas. Elas me incomodam profundamente. Tenho repulsa, rejeição. Sempre batalhei para não ser uma velha gorda”.
Percebo que quem é mais roliço/a se tenha sentido algo incomodado/a com as declarações da senhora, mas a minha questão é: se em vez de mulheres gordas, Betty Faria tivesse dito que se sentia profundamente incomodada com mulheres magras, o sururu tinha sido o mesmo? Muito sinceramente duvido.
Tendo em conta os ataques que uma das modelos que desfilou para a Victoria Beckham sofreu publicamente, mais ou menos no mesmo período, parece-me que para a opinião pública pode dizer-se o que se quiser sobre um magro mas não sobre um gordo.
Enquanto toda a gente se indignou com o comentário de Betty Faria, por outro lado meio mundo achou que chamar publicamente “esqueleto” a uma miúda de 17 anos era perfeitamente razoável. É certo que me podem dizer que os comentários não seria dirigidos directamente a ela, mas sim à designer que a contratou para o desfile. No entanto, em última análise os jornais, revistas, público em geral, todos fizeram comentários sobre a aparência física de uma miúda de 17 anos! A Senhora Faria tem 74, a sua personalidade mal ou bem já está mais do que formada e ela fez um comentário sobre si própria: "Sempre batalhei para não ser uma velha gorda”. É uma escolha dela!
A modelo do desfile da Victoria Beckham é extremamente magra, sim. Mas por acaso sabem porque é que ela é magra? Não creio... Pode sê-lo por opção (como se ter excesso de peso não fosse uma escolha...), mas também pode ser porque não consegue ganhar peso e isso meus senhores e senhoras é por vezes bastante difícil. Digo com conhecimento de causa!
Passei a adolescência inteira a ouvir “piropos fofos” como “Olivia Palito”, “Espirra-canivetes” ou mesmo “Trinca Espinha”. Eu era magra não porque fizesse dieta, porque fosse influenciada pelas figuras públicas ou pela moda (como agora se tem a mania de dizer), era magra porque era mesmo assim, mesmo comesse como uma verdadeira alimária como é habitual nos adolescentes. Queria ganhar peso e não conseguia... E conheci ao longo da vida várias mulheres que tiverem ou têm o mesmo problema do que eu para ganhar peso.
E por favor deixemo-nos de hipocrisias. Quantas vezes já comentaram com alguém que não vêem há algum tempo: “Uau! Estás tão magro/a.” e um “Uau! Estás tão gordo/a.”? Acho que o resultado é 100 para o primeiro e 0 para o segundo. Se ser cheinho é bom, então toda a gente dizia um "Que máximo estás tão gordo/a" regularmente.... Será que a Betty Faria não disse aquilo que vai na cabeça de muito gente mas não se tem coragem de dizer? E quem disse que a pessoa que ouve um "está tão magro/a" vai considerar isso um elogio?
Por isso o que eu opino: Tenho horror a excessos que põem em risco a saúde. Tenho horror a pessoas burras que abrem a boca e mostram que o oxigénio que respiram é desperdiçado. Incomodam-me as pessoas que não tomam banho e não aprenderam para que servem os desodorizantes.Tenho horror xenófobos, homofóbicos, misóginos. Sinto repulsa por quem diz "hades", "póssamos", "onteontem". Tenho horror a pessoas a pessoas mal educadas, que gritam palavrões, passam à frente nas filas... Tenho nojo a quem come de boca a aberta... Posso por tudo no mesmo saco, ou posso usar a massa cinzenta e ver o que realmente é importante para a sociedade sem proteccionismos idiotas.