Sim, sim devem estar a pensar: “ainda agora regressaste de férias, já estás a pensar na ronha novamente?” Sim, ia já no primeiro avião para qualquer lugar do mundo e seria muito mais produtiva quando regressasse. Aliás sou apologista que todos os meses tivessem pelo menos um fim-de-semana de 3 ou 4 dias para uma escapadinha da rotina. E com os dias assim mais farruscos, lembrei-me da minha semana de férias em Saïdia, Marrocos, este Verão, com calorzinho.
Com uma praia de 14 quilómetros de areia fina e uma bela baía, Saïdia é conhecida em Marrocos como a “Pérola Azul do Mediterrâneo” e é um destino que começa a atrair os apreciadores de praia.
Saïdia é uma estância balnear na costa mediterrânea de Marrocos, quase coladinha à fronteira com a Argélia. A localidade começou a ser desenvolvida para estância balnear há poucos anos, por isso não pensem que vão encontrar muita coisa sobre a história de Marrocos. Para isso há outras cidades e circuitos. Em Saïdia temos o binómio “Praia e Descanso”, que era mesmo o que que queria em Agosto. (E já me apetecia novamente)
Fiquei alojada no Be Live Collection Saïdia, um resort com todas as comodidades para passar umas férias tranquilas. E esqueçam os clichés de que os árabes não vão à praia. Saïdia é também uma estância balnear para os marroquinos e eram vários os que estavam alojados no hotel. É certo que haviam muitas marroquinas de fato de banho completo (e quando digo completo é mesmo uma espécie de fato de treino tapadas da cabeça aos pés), mas também havia muitas perfeitamente tranquilas com o seu biquíni. É um facto que Marrocos não é um país árabe totalmente laico, mas certamente é dos mais “ocidentalizados”. Vêem-se algumas mulheres de véu, mas muito poucas (muito poucas mesmo) de burka. Aliás posso dizer-vos que foram mais as que vi com uma indumentária europeia do que as que envergavam a burka. Mas, claro está, eu não estive a passear por Marrocos “profundo” e sim numa estância balnear.
Voltando ao resort, as suas duas piscinas foram o meu “spot” principal durante aquela semana. Ah e a praia, claro! Uma das piscinas mais animada e movimentada (onde os animadores promovem as actividades de lazer para os hóspedes) e com a piscina para crianças e a outra noutro lado da estância mais tranquila com menos música e barulho... Ideal para dormir a sesta antes e depois do almoço, ler um livro sem barulho... Efim, descanso.
Além disto, também podíamos ir até à praia, em frente ao hotel, nas áreas reservadas ao resort. A água quente do Mediterrâneo fez-me desesperar quando cheguei a Portugal e senti o fresquinho do oceano.
Claro que não podia ficar fechada no resort todos os dias. E vai daí demos um saltinho até à marina. de A marina de Saïdia está um pouco abandonada. Nota-se que foi feito um investimento de modernização, mas a verdade é que não se mudam usos e costumes por decreto e ainda levará alguns anos até que comece a ter movimento que a sustente. No entanto, é possível aprender a fazer vela, mergulho e esqui aquático, pois aqui encontram-se uma série de escolas da especialidade. Porém, é sempre melhor confirmar com o hotel quais as escolas que recomendam.
E agora são 5 horas de autocarro, sff...
Ora loucura das loucuras, num dos dias, eu e os meus amigos achamos que seria uma ótima ideia conhecer mais a cultura marroquina e nada diz mais isso do que a cidade de Fez...
E ponto, um dos dias lá fomos nós, de autocarro até Fez... Acordar às 5h da manhã para uma viagem de cerca 400Km... mais ou menos 5 horas de autocarro. Mas tenho que salientar que a autoestrada era boa e o autocarro também. Nada de caminho de cabras e camioneta de caixa aberta.
Uma cidade fundada no século VIII d.c., já foi a capital de Marrocos. São séculos de história que parecem imutáveis nas ruas da medina. No interior da cidade antiga de Fes está localizada a Universidade al Quaraouiyine (actualmente uma mesquita) e que é a mais antiga universidade do mundo criada em 859d.c., por Fatima al-Fihri.
Sim, a primeira universidade do mundo, foi fundada no mundo islâmico por uma mulher (o que acho que faz pensar no que raio anda aquela gente daquelas bandas a pregar nestes dias). Na nossa bela Europa, por essa mesma altura, a quase totalidade das mulher era analfabeta e as “escolas” eram os seminários da Igreja Católica, onde o ensino era apenas teológico. É óbvio que a universidade tinha uma mesquita. Mas estamos a falar de 859d.c., onde a separação entre religião e ensino não era grande. Contudo, a universidade foi aberta por uma mulher alfabetizada e além de teologia também se ensinava, medicina, astronomia, matemática...
A medina velha de Fez tem milhões de ruas, é um autentico labirinto, e para quem gosta do género é de facto, um prazer perder-se naquelas ruas e vielas (com guia, claro).
Fez alcançou o seu apogeu nos séculos XIII e XIV, sob a dinastia dos Marinid, quando era a capital do reino de Marrocos, substituida depois por Marrakech (também muito bonita com o seu tom ocre). Os monumentos principais, as escolas, os funduks, os palácios, as mesquitas, as fontes, são quase todos dessa época. A capital política de Marrocos é Rabat desde 1912, mas Fez continua a capital centro cultural e espiritual do país. A cidade é Património Mundial da Humanidade desde 1981.
No interior da medina há autenticas joias de arquitectura. Infelizmente não pudemos visitar as mesquitas por dentro pois é algo que está limitado aos fiéis islâmicos (ao contrário do que acontece na Turquia, mas isso fica para outro post).
Podemos visitar uma medrasa ou madrasa, a Medersa al Bounania. De acordo com o guia existe uma diferença no tipo de escola: umas são de ensino religioso, as outras são para o ensino “normal”, mas como não tirei notas na aula já me esqueci de qual é qual. A madrasa que visitamos já está “desactivada”, tinha a zona de oração e as celas dos alunos eram em tudo semelhantes às celas dos monges e freiras dos nossos mosteiros e conventos: minúsculas, despidas e “frias”.
Arquitectonicamente o trabalho de escultura em pedra e madeira nas zonas “publicas” é simplesmente maravilhoso. O Mausoléu de Moulay Idris também é um edifício lindíssimo, como na maioria das áreas religiosas da cidade, não-muçulmanos são proibidos de entrar ao santuário, mas é possível aproximar até a porta e tirar fotos e ter uma visão do imponente edifício.
O Palácio Real de Fez antes de chegarmos à cidade medieval é um dos maiores e mais antigos do Marrocos. Vale a pena ver os s portões do Palácio Real de Fez, não só para ver o seu brilho e beleza do trabalho de escultura em baixo relevo.
Obviamente não podia ter ido a Fez sem passar pela zona de curtição de peles. E só vos posso dizer: se alguma vez visitarem, preparem o olfacto e aceitem calorosamente o raminho de hortelã que vos oferecem à entrada - vão precisar! Os lagos de tingimento são um deleite para os olhos, mas o odor é nauseabundo!
E se gostarem do artesanato marroquino, vão “perder-se” nas lojas locais. Além dos curtumes, também visitei uma loja de têxteis e tapetes tradicionais, um dos ourives que fez a recuperação das portas do Palácio Real, e uma ervanária com todas as mezinhas e chás tradicionais para tratar todas as maleitas.
Mais doloroso foi o regresso... Mais 5 horas de viagem até Saidia, mas valeu a pena. Embora já tivesse visitado Marraquexe há vários anos, Fez tem o seu próprio encanto!
É claro que adorava visitar Casablanca, Meknes, Ouarzazate, subir os Atlas, ver as praias do Atlântico, mas tendo já lá ido duas vezes, acho que a minha próxima viagem ao norte de África deverá ser a outro país...
Vou só passar ali na Halcon Viagens para marcar!