Actualmente não sou uma adepta do Natal. Gosto do feriado como de qualquer outro no calendário, sem mais nem menos. Quem me conheceu há uns anos, sabe que fui grande fã de todo o decor, gastronomia, presentes. Ah os presentes, essa aventura excêntrica, capaz de levar qualquer um à loucura.
De há uns anos a esta parte, por motivos dessa coisa chamada Natal, evito por todas as formas aproximar-me de centros comerciais, hipermercados e Cª, qual vampiro a fugir dos raios de Sol. Como um animal que hiberna e faz um stockzinho de alimentos, sou eu assim a partir do final de Novembro e, por tudo, evito ser apanhada no meio da avalanche consumista nataleira.
No entanto, o meu cão tem que comer ração especial, e eu – dona desnaturada - não reparei que estava mesmo a terminar e não dava para encomendar online (não era entregue no próprio dia). Vai dai respirei fundo, fiz meditação, alinhei os chacras, benzi-me e lá me pus a caminho ao início da tarde do shopping center (gosto tanto de falar estrangeiro) mais próximo para comprar ração da digestões canídeas sensíveis...
Ainda a 1km da superfície comercial, a fila já começava e primeiro pensamento: “É um dia de semana?! Esta gente não trabalha? É por isso que o país não anda para a frente”. Não, não foi bem assim mas “cai sempre bem” uns clichés destes. Contudo assustei-me ao pensar na enchente que ia apanhar.
Após a ração comprada e guardada no carro, decidi ir até à Starbucks mimar-me com gordices natalícias importadas: o bolo de chocolate com corante vermelho, recheado e coberto de creme de queijo também conhecido como Red Velvet e um quente cappuccino. (Sim, sim como doces típicos de Natal)
Sentada à janela da Starbucks comecei a olhar para quem passava atarefado nas compras e a cuscar as conversas que se passavam à minha volta:
- Os avós: sim, casais e casais de avós que durante os dias anteriores não puderam fazer uma pausa entre ver as manhãs do Goucha e as tarde da Júlia, para fazer as compras das peúgas e chocolates para oferecer à família. Só a 4 dias do Natal é os avós conseguiram decidir quem ia receber peúgas e chocolates Mon Cheri e Ferrero Roché e arranjar tempo nas suas preenchidas agendas para andarem a resmungar um com o outro sobre estar muita gente nos corredores, as prendas que ainda faltam comprar, o bacalhau para demolhar e tudo o mais. “Já devias ter comprados as coisas mais cedo”, “Mas só ontem é que soube que a prima Mimi que não vejo há 20 anos vem e tenho que lhe comprar uma caixinha de bombons embora ela tenha diabetes”, “Vê lá se te despachas que as Tarde da Júlia estão quase a começar. Devíamos ter vindo de manhã”, “De manhã não me dava jeito. Tinha que ir ao mercado e o Goucha e a Cristina tinham dito que tinham uma surpresa no programa”, “Hum, não te esqueças que o Primo Zé também vem”, “Não vem não que a Julieta já me disse que ele este anos não quer sair da terra”, “Vem sim”... E lá começa uma discussão entre os avós... (Porque ligar ao Primo Zé para confirmar se ele vem ou não pode parecer mal)
- Os Pais: Após já terem comprado as 59486 prendas necessárias para colocar na árvore de Natal para o filho desembrulhar, reparam que ainda falta uma! E como não pode ficar para outra altura do ano – porque todos sabemos que só se podem dar presentes no Natal e nos aniversários, fora disso há uma lei que proíbe – lá estão os pais a correr todas as lojas infantis do shopping à procura do carro-teleguiado-drone com luzinhas amarelas. As crianças precisam de rasgar muito papel na noite de 24 e não ligar nenhuma ao conteúdo a partir do terceiro presente que rasgam. “Devias ter encomendado o carrinho-teleguiado-drone com luzes amarelas Bla dos desenhos animados Blhe que ele tanto gosta!” “Pois, mas não tive tempo o que queres que faça? Além disso a tua irmã disse que comprava” “Foi a única coisa que ele pediu para este Natal, além dos jogos Bzzz para a consola, e os patins, e o sabre de Luz, e a guitarra, e o tablet, e a camisola do filme e.... A minha irmã não é para aqui chamada, tu é que devias ter comprado a tempo e agora temos que andar aqui à procura à pressa”, “Se te tivesses despachado mais cedo já podíamos ter resolvido isto”.... e a discussão prolonga-se pelo resto da busca no centro comercial e no carro de regresso a casa (mesmo que tenham conseguido encontrar o carrinho-teleguiado-drone ou a Barbie Cientista – se quisermos fazer isto da diferença dos presentes por género.)
- Os Namorados... Bem já tive nesta categoria de andar a procurar um presente à pressa nas vésperas do Natal para dar ao namorado, porque não sabia o que lhe havia de dar... Bom, por experiência posso dizer: Se não sabes o que oferecer à tua cara metade é porque se calhar ela não é a tua cara metade. Pode acontecer andar à procura de um substituto exequível para o presente que gostaria de dar, visto que a conta bancária nem sempre está recheada e uma voltinha num MiG pode ser carote. Agora se estás numa de “acho que vou passar na Primark, pode ser que veja lá alguma camisola engraçada para lhe dar”... Bem meus amores, rapazes e raparigas se é este o caminho que estão a seguir, mais vale ir directo para as peúgas e o robe (cor-de-rosa para menina) sem passar na casa da partida e recolher 20 contos (Oh como eu sou antiga... o Monopólio ainda era em escudos)